Fui convidada para cuidar das estatais e a gente fez uma limpa — disse Marina.
Marçal voltou a defender as propostas para mobilidade que costuma mencionar, como “criar 2 milhões de empregos” nas periferias, permitir que os carros virem à direita no sinal vermelho e outros tópicos.
— (Teremos) bolsões de estacionamentos nas rodovias que entram na cidade de São Paulo […] colocar nas periferias os teleféricos — disse Marçal.
Segundo bloco: perguntas de jornalistas
No segundo bloco do debate, os candidatos à prefeitura de São Paulo responderam a perguntas de jornalistas, com comentários de seus adversários. Boulos foi indagado sobre como agiria, se eleito, caso houver resistência às ordens da Guarda Civil Metropolitana (GCM) como ele mesmo teve quando fazia parte do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). O psolista chegou a ser detido por três vezes durante protestos ou ocupações quando fazia parte do movimento. Boulos disse que a relação com a GCM será “muito tranquila e de muito respeito”, sem responder especificamente à questão. Marina foi a responsável por comentar, e resolveu partir para o ataque:
— O partido dele entrou no Supremo Tribunal Federal para garantir a saidinha dos presos, também foi contrário a retirar as barracas dentro da cracolândia que vendem drogas, é apoiado por Lula que é um bandido, ele foi num desfile de escola de samba que vestiu os policiais de demônios, é assim que ele vê a polícia. Boulos, por que você gosta tanto de defender bandido?
Boulos respondeu falando sobre saúde:
— É muito triste ver esse nível de alguém que quer governar a cidade de São Paulo. Eu estou preocupado com os próximos quatro anos, e particularmente com você mulher, mãe, que está na fila de um exame em São Paulo. As pessoas esperam meses e até mais de ano por isso eu vou criar o Hospital da Mulher na cidade de São Paulo, junto com o nosso programa Mais Médicos Especialidades.
Datena foi perguntado a respeito da tumultuada relação do prefeito e da sua base de vereadores com as ONGs que atuam na assistência social a moradores em situação de rua. Ele prometeu retirar todas as crianças dessa situação, que estimou em 3 mil, e defendeu manter “abrigos dignos” e aumentar o valor do auxílio aluguel. Nunes comentou a resposta defendendo medidas da gestão como a construção de 10 “Vilas Reencontro”.
Questionado sobre o aumento da população de rua e os problemas na relação da prefeitura e da Câmara dos Vereadores com as ONGs que atendem aos desabrigados, Datena defendeu o aumento do auxílio aluguel.
— Estão surgindo favelas em muros, que o cara coloca uma lona e mora em um lugar que nem um bicho moraria. As pessoas não querem ficar nos abrigos porque acontecem barbaridades — disse Datena.
No seu comentário, Nunes disse que a prefeitura tem tido o “desafio de acolher” a população de rua e relembrou políticas da gestão atual, como as Vilas Reencontro, que oferece moradias para famílias em situação de rua.
— Fiz dez Vilas Reencontro, com casas de 18 metros quadrados, com atividades profissionais para se reinserir no mercado. São Paulo todo dia recebe pessoas e a gente tem o desafio de acolher — afirmou o prefeito.
Ao ser perguntada por um jornalista sobre o assunto, Marina disse que “não foi consultada” sobre o copia e cola do plano de governo de Pablo Marçal, que usou boa parte do documento de seu ex-aliado Filipe Sabará, cabeça de chapa pelo Novo em 2020; ela era candidata a vice. Disse, no entanto, que “é um prazer fazer dois planos para a cidade de São Paulo”. O restante do tempo foi usada por ela e também por Datena para investir na postura antissistema e criticar políticos que prometem coisas e não cumprem quando eleitos. “Só faço promessas que eu tenho certeza que vou cumprir até a morte”, afirmou o tucano.
Nunes foi questionado por jornalista sobre o aumento no número de mortes no trânsito em São Paulo, um acréscimo de 31,6% no primeiro semestre do ano, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-SP), em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado é o mais letal desde 2015 para os meses entre janeiro e junho de cada ano. Ainda assim, em abril o prefeito vetou a instalação de novos radares na cidade. Ele explicou que a decisão foi para “não ter indústria da multa” com radares sem estudo técnico. Boulos, ao comentar a resposta, defendeu que a “educação no trânsito é muito importante para que São Paulo deixe de ter esse recorde de mortes” e questionou o adversário sobre suas falas recentes se colocando contra a obrigatoriedade da vacina.
— Esses dias ele falou que errou ao defender a vacinação obrigatória, a vacinação foi tão importante na pandemia, e agora para agradar aliados ele diz que não. Por isso vou te perguntar, Ricardo Nunes, você defende vacina obrigatória caso São Paulo enfrente uma nova pandemia?
— Olha, Boulos, o nível está tão bom e você quer baixar. Sobre vacina, o que eu falei é que às vezes a gente erra, não precisa obrigar as pessoas para ir para uma igreja, para um bar, apresentar o comprovante da vacina.
Sobre o tema da cracolândia, Pablo Marçal usou como bom exemplo de resolução do problema El Salvador, governado por Nayib Bukele, país que Marçal visitou durante a corrida eleitoral.
— Fui em um lugar (em El Salvador) que existe a cracolândia e já não existe mais. Lá tem um presidente que foi prefeito, que é um cara jovem, que revolucionou aquela cidade. Temos como resolver. Vamos colocar anjos da guarda, vamos colocar 80 mil pessoas para ficar com essa pessoa até ela ser levada para um abrigo e um emprego — disse Marçal.
Tabata Amaral, que comentou sobre o tema, relembrou o episódio com o pai para dizer que existe ineficiência do poder municipal para tratar do problema.
— Eu perdi meu pai para as drogas, que sempre quis se internar e nunca conseguiu uma vaga no serviço público — disse a candidata.
Na pergunta de jornalistas feita a Tabata, sobre meio ambiente, Marçal surpreendeu ao fazer uma defesa de Nunes, dizendo que é “injusto dizer que ele não fez nada” a respeito da semana crítica em que os paulistanos respiraram o pior ar do mundo.
O ex-coach disse que o adversário fez “comunicados”. Depois, lembrou as investigações da “máfia das creches”, oferecendo direito de resposta ao emedebista, e prometeu plantar árvores e despoluir os rios da cidade.
— Estou achando curioso joguinho combinado em que todo mundo virou amiguinho — disse Tabata, direcionando novamente a artilharia ao prefeito ao dizer que a prefeitura promove obras mal-feitas na canalização de córregos e “despejou asfalto” às vésperas das eleições.
Nunes usou o minuto extra para alfinetar o candidato do PRTB, dizendo que, em primeiro nas pesquisas, “só se for em rejeição”.
Terceiro bloco: novas perguntas diretas
No terceiro bloco, os candidatos voltaram a formular perguntas uns aos outros. Datena usou uma pergunta sobre questão ambiental para questionar o que Nunes está fazendo para impedir a proliferação do PCC no transporte público da cidade de São Paulo. Depois, questionou o prefeito sobre as enchentes.
Nunes voltou a defender que “fez a intervenção na UPBus” e que trabalha todos os dias junto com o governo estadual de Tarcísio de Freitas e disse que a cidade está batendo “recorde de investimentos” em obras voltadas para solucionar problemas como as enchentes.
— Nas chuvas desse ano não tivemos nenhum óbito nas casas que tiveram deslizamento — disse Nunes.
Na segunda rodada, Marçal ignorou completamente o tema sorteado, de mobilidade urbana, e gastou todo o seu tempo de pergunta para criticar o uso de fundo eleitoral e partidário pelos seus adversários, que somaram cerca de R$ 100 milhões em receitas. Ele pediu aos eleitores que não votassem em quem usa dinheiro público. Ao final, escolheu Marina Helena para comentar o que quisesse.
— Pode deixar a Marina falar — disse ele ao mediador do debate.
A candidata do Novo disse ser contra o fundo eleitoral e que “recebeu pouco”; foram R$ 2,4 milhões. Segundo ela, o modelo de financiamento público “impede a renovação”. Foi criticada na sequência pelo ex-coach pela postura ambígua em relação ao tema. Na tréplica, Marina Helena ignorou o comentário e passou a criticar o “ativismo judiciário” e a cobrança de impostos, que considera elevada.
Boulos acusou Nunes de ajudar a criar uma ‘indústria da morte’ após a concessão dos cemitérios públicos do município. O deputado afirma que o preço dos velórios subiu e questionou se o prefeito acha que a concessão foi um erro.
— O que está previsto é 25% de desconto para o velório social e gratuidade para quem apresenta atestado de pobreza. A gente está melhorando o serviço — defendeu o prefeito.
O evento terá 1h45 de duração e será dividido em três blocos. A mediação será feita pelo jornalista Cesar Filho. As posições de cada postulante no estúdio foram definidas em um sorteio. Datena e Marçal ficarão separados apenas por Boulos. Durante o debate realizado no último domingo pela TV Cultura, o apresentador agrediu o ex-coach com uma cadeira.
- Primeiro Bloco: Perguntas entre candidatos com temas diversos sorteados. Pergunta de 30s, resposta de 1min30s, réplica e tréplica de 1min cada. Os candidatos serão informados do tempo decorrido em cada participação por um cronômetro no estúdio. Em caso de não respeito ao tempo, o mediador interromperá a fala do candidato, dando prosseguimento ao debate.
- Segundo Bloco: Rodada de perguntas dos jornalistas participantes, sem repetição de candidatos para responder. Resposta de 1min30s. Um segundo candidato será escolhido para comentar em 1min.
- Terceiro Bloco: Nova rodada de perguntas entre candidatos com temas diversos sorteados, nos mesmos tempos do primeiro bloco, e considerações finais.
Ofensas pessoais podem ser contestadas com um minuto adicional de resposta. O pedido deve ser feito ao mediador no momento da ofensa ou ao final do bloco. Um corpo jurídico formado pelos promotores do debate definirá se houve citação que justifique o direito de resposta.
Segundo os organizadores do debate, serão entendidas como ofensa pessoal as ocorrências de calúnia, injúria ou difamação. O direito de resposta será exercido a qualquer tempo dentro do bloco em que foi solicitado ou no início do seguinte, caso o pedido seja feito ao fim do bloco em curso.
O Datafolha divulgado nesta quinta mostrou Nunes com 27% das intenções de voto, contra 26% de Boulos. Marçal tem 19%, Datena marcou 6%, Tabata 8% e Marina 3%. A margem de erro é estimada em três pontos percentuais para mais ou menos. São 6% dos eleitores os que declaram a intenção de votar em branco ou nulo e outros 3% se declaram indecisos.