“Eu sei que Jesus me aceita”, diz pastor trans que fundou igreja para LGBTs
Em maio deste ano, uma igreja no interior de São Paulo, em Ribeirão Preto, começou a chamar atenção por seu caráter inclusivo. A Igreja Apostólica Kaléo Chamados em Cristo, liderada por um casal LGBT, foi fundada pela pastora Maiara Heli e seu marido, o pastor Heliano Ferreira, um homem trans.
“Por mais que 90% da sociedade fale que os LGBTs não herdarão o reino do céu, depois que conheci o Evangelho, eu sei que Jesus me aceita”, declarou Heliano ao UOL, ao compartilhar sua história, que ressoa com as de muitos outros membros da comunidade LGBT. Ele destaca a importância de se sentir acolhido espiritualmente, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual.
Heliano, hoje com 45 anos, cresceu em uma família católica e enfrentou muitos anos de preconceito religioso. “Minha família sempre foi muito preconceituosa com pessoas LGBTs. Chegou um ponto em que eu pensei: como eu vou ter um relacionamento com outra menina? Eu não posso. Eu sou sapatão? Eu vou para o inferno, minha mãe vai me dar uma surra”, relembrou. Durante anos, escondeu seus sentimentos até que, aos 34 anos, decidiu assumir-se lésbica.
Quando se assumiu, foi surpreendido pela aceitação de sua mãe e amigos, que revelaram já perceberem sua orientação. “Elas me disseram que eu já tinha um jeito de ‘sapatão'”, lembra, citando sua mãe: “Sempre soube que você era ‘sapatão'”. No entanto, mesmo com essa aceitação familiar, ele ainda sentia conflitos internos relacionados à sua fé e orientação sexual.
A mudança definitiva veio após um convite para participar de um culto em uma igreja inclusiva, onde pessoas LGBT são bem-vindas. Foi nesse ambiente acolhedor que conheceu o Evangelho e também Maiara, sua esposa. Casados há sete anos, ambos decidiram levar adiante a mensagem de inclusão religiosa. O nome da igreja, Kaléo, é uma palavra que significa “chamado” ou “vocação”.
“Não vivo em promiscuidade, eu sou esposo de uma mulher só, casei diante de Deus e pela lei, porque hoje ela garante isso. Pior são homens e mulheres em cima de altares, mentindo para si próprios, para a sociedade e para Deus. Esses, sim, acho que irão pagar uma conta alta com Deus”, disse Heliano. Ele, que passou pela transição de gênero com o apoio da esposa e dos filhos, também venceu um câncer de mama. Após mastectomias e anos de exames, hoje vive plenamente como sempre desejou, sem vestígios da doença.
Fonte: Bnews