Pandemia acelerou envelhecimento cerebral até em pessoas que não tiveram covid, diz estudo
Um novo estudo publicado nessa terça-feira (22) na revista científica Nature Communications revelou que a pandemia da Covid-19 deixou impactos duradouros na saúde cerebral, mesmo entre pessoas que não foram infectadas pelo coronavírus. Segundo os pesquisadores do Reino Unido, cérebros de indivíduos saudáveis envelheceram, em média, 5,5 meses mais rápido durante o período pandêmico.
A pesquisa envolveu cerca de mil participantes e utilizou exames de imagem cerebral e testes cognitivos para entender melhor os efeitos da pandemia. A equipe científica utilizou dados do UK Biobank (um amplo banco de informações sobre a saúde da população britânica) e analisou as imagens cerebrais de 15.334 adultos, com idade média de 63 anos.
Como foi feito o estudo
Modelos de inteligência artificial foram treinados para prever a idade cerebral com base em características observadas nas imagens do órgão. Com isso, foi possível comparar a idade estimada com a idade real do cérebro. Em uma etapa seguinte, os modelos foram aplicados a um grupo separado de 996 participantes saudáveis, que haviam realizado duas tomografias com um intervalo de pelo menos dois anos. Os voluntários foram divididos em dois grupos:
– Pessoas que fizeram os exames antes da pandemia (grupo de controle);
– Pessoas que fizeram uma tomografia antes e outra durante a pandemia.
Os resultados mostraram que o envelhecimento cerebral acelerado ocorreu no segundo grupo, mesmo sem infecção pela Covid. A hipótese dos pesquisadores é de que fatores como isolamento social, estresse e mudanças na rotina contribuíram para esse impacto neurológico.
Grupos mais vulneráveis
O efeito foi mais intenso entre homens e idosos, perfis já conhecidos por maior sensibilidade a alterações cerebrais em situações de estresse. Além disso, participantes com baixa renda ou desempregados também apresentaram sinais mais acentuados de envelhecimento, o que sugere que fatores socioeconômicos influenciam diretamente na saúde cerebral.
Por outro lado, os testes cognitivos mostraram queda na agilidade mental apenas entre os participantes que foram infectados pelo coronavírus, indicando que o envelhecimento cerebral mais acelerado nem sempre implica, de imediato, em perda de memória ou dificuldades no pensamento. “A saúde cerebral é moldada não apenas pela doença, mas também pelo nosso ambiente cotidiano”, destacou o pesquisador Ali-Reza Mohammadinejad, da Universidade de Nottingham.
Apesar dos achados relevantes, os autores alertam que ainda são necessários novos estudos para comprovar uma relação direta de causa e efeito, além de verificar se os impactos observados no cérebro são reversíveis ou permanentes.
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