Tarifaço: Brasil será chamado a negociar, dizem emissários do governo Trump

O Brasil deve ser chamado a negociar com o governo dos Estados Unidos, mas ainda sem data definida. A informação foi repassada por representantes da gestão Donald Trump a empresários americanos, segundo apuração do Estadão/BroadcastMesmo sendo um dos países mais impactados pelas novas tarifas — atrás apenas da China, que teve alíquotas superiores a 100% temporariamente suspensas —, o Brasil ficou para o fim da fila nas conversas bilaterais.

A justificativa, conforme apurado, seria a prioridade dada por Washington a países com os quais os EUA acumulam déficits comerciais, como a União Europeia, o Japão e a Indonésia. No caso brasileiro, o saldo é favorável aos americanos: em 2024, os EUA registraram um superávit de US$ 253 milhões no comércio com o Brasil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Apesar disso, fontes ouvidas indicam que fatores políticos têm pesado mais que os econômicos. Nesta quinta-feira (31), em nova ordem executiva sobre o tarifaço, o presidente Trump condicionou a retirada das sobretaxas — que somam 50%, somando os 40% anunciados em julho aos 10% já em vigor desde abril — ao que chamou de “ações corretivas” por parte do governo brasileiro.

Entre as exigências, Trump incluiu pressões explícitas contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, alegando que ele representa uma ameaça à segurança nacional e à economia dos Estados Unidos. O presidente americano também voltou a acusar o Judiciário brasileiro de perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Apesar de uma recente lista de exceções com 694 produtos brasileiros que ficaram fora das novas tarifas — o que foi visto como um sinal de trégua — diplomatas brasileiros mantêm cautela. No Itamaraty, no Palácio do Planalto e em outras esferas do governo, permanece a avaliação de que a ofensiva americana tem caráter político e que as medidas comerciais anunciadas até agora não foram precedidas por negociação direta.

Autoridades ouvidas pela reportagem avaliam que, mesmo com o alívio momentâneo pela exclusão de parte dos produtos, ainda não há clima para comemorações. As decisões vêm sendo tomadas unilateralmente por Washington, sem participação efetiva do Brasil nas discussões. Negociadores ainda enxergam pouco espaço de diálogo, já que as tratativas estariam concentradas diretamente nas mãos de Trump.

Enquanto isso, o governo brasileiro se movimenta em diversas frentes diplomáticas e políticas para tentar reverter ou mitigar os impactos das tarifas. Nos bastidores, o sentimento é de apreensão e incerteza sobre o real alcance da chamada “lista de exceções” e sobre os próximos passos do governo americano.

meoinorte

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