Doação de órgãos cresce 71% no Piauí e reduz fila por transplantes de córnea
O Piauí registrou um crescimento expressivo na doação de órgãos no primeiro semestre de 2025. Foram realizados 183 transplantes, número 71% maior em relação ao mesmo período do ano passado, quando ocorreram 107 procedimentos.
De acordo com Gilson Cantuário, coordenador da Organização de Procura de Órgãos do Piauí (OPO-PI), o avanço está diretamente relacionado à conscientização da sociedade e, principalmente, à decisão das famílias em autorizar a doação após a morte de um ente querido.
“A grande maioria das doações que conseguimos são de pessoas que, em vida, expressaram esse desejo. Mesmo assim, no Brasil, a família precisa assinar o termo de consentimento. Por isso, é fundamental conversar sobre o assunto e deixar essa vontade clara”, destacou Cantuário em entrevista ao Jornal Cidade Verde.
Transplantes em alta
O balanço da OPO-PI mostra que, entre janeiro e junho deste ano, foram realizados 29 transplantes de rins e 154 de córneas no Piauí. No mesmo período de 2024, o estado registrou 16 transplantes renais e 91 de córneas.
Atualmente, os procedimentos realizados no estado se concentram em rins e córneas. Os fígados captados no Piauí são destinados a outros estados, mas beneficiam pacientes piauienses que realizam o transplante fora do domicílio.
“Hoje temos os melhores indicadores de doação e transplante da nossa história. Isso reduz o tempo de espera. Para se ter ideia, a fila por transplante de córnea, que já chegou a seis anos, hoje está em menos de dois anos”, explicou o coordenador.
Desafios: tempo e logística
Apesar dos avanços, o tempo continua sendo um dos maiores desafios do processo. O diagnóstico de morte encefálica pode demorar dias, o que desgasta as famílias e compromete a qualidade do órgão.
“A morte cerebral é um momento decisivo. Qualquer atraso na confirmação do diagnóstico ou na retirada do órgão pode prejudicar a qualidade do transplante. O tempo também é inimigo por causa do sofrimento familiar. Já doei órgãos na minha própria família e posso dizer que é extremamente cansativo acompanhar todo o processo”, relatou Cantuário.
O coordenador destacou ainda a importância da logística no transporte dos órgãos. “Às vezes o órgão não chega a tempo porque não há voo disponível ou precisa de transporte especial, às vezes até por aeronaves particulares. Isso impacta negativamente na qualidade do transplante e, em alguns casos, faz com que famílias recusem a doação”, explicou.
Conscientização é o primeiro passo
Gilson Cantuário reforça que o diálogo familiar é essencial para salvar vidas: “É preciso conversar com a família e declarar esse desejo. A informação de qualidade ajuda muito a melhorar as doações no Piauí”, concluiu.
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