Polícia aponta lavagem por bancos digitais e mortes ligadas à agiotagem no Piauí
A Polícia Civil do Piauí revelou nesta terça-feira (11) que o grupo de estrangeiros preso na Operação Macondo usava bancos digitais para lavar dinheiro obtido por meio de agiotagem e cobrava dívidas com extrema violência. Segundo os delegados Matheus Zanatta e Francírio Queiroz, há registros de homicídios e suicídios diretamente ligados às cobranças feitas pelo grupo.
R$ 5 milhões movimentados por contas digitais
De acordo com o superintendente de Operações Integradas da Secretaria de Segurança, Matheus Zanatta, os investigados movimentaram valores expressivos sem comprovação de renda formal.
“Um dos alvos movimentou quase R$ 5 milhões em quatro anos; outro, R$ 300 mil em apenas dois meses. Nenhum deles tem ocupação legal. Por isso pedimos o bloqueio de contas e apreensão de veículos e motocicletas, justamente para sufocar o braço financeiro da organização”, explicou o delegado.
As investigações apontam que os suspeitos utilizavam múltiplas contas digitais, abertas em nomes próprios e de terceiros, para dificultar o rastreamento da origem e do destino do dinheiro. O método permitia que o grupo circulasse grandes quantias sem despertar alertas do sistema bancário tradicional.
‘Franquia criminosa’ atuava com hierarquia e violência
O delegado Francírio Queiroz, coordenador do Laboratório de Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil, afirmou que a organização funcionava como uma “franquia criminosa”, com papéis bem definidos entre financiadores, arrecadadores e cobradores.
“Eles operavam com uma hierarquia bem estruturada, dividida por estados e bairros. Cada cobrador recolhia o dinheiro e fazia a cobrança diária, com juros abusivos e uso de ameaças. Esse modelo se replica em várias cidades, como uma espécie de franquia do crime”, destacou Queiroz.
As principais vítimas eram pequenos comerciantes, ambulantes e autônomos, que recorriam aos empréstimos por não terem acesso ao sistema bancário. Em pouco tempo, as dívidas se tornavam impagáveis, e as ameaças passavam a envolver violência psicológica e física.
“Temos boletins de ocorrência que registram agressões e ameaças. Em alguns casos, houve homicídios e até suicídio de pessoas que não suportaram a pressão. Essa prática criminosa gera um ciclo de medo e de crimes violentos”, afirmou Zanatta.
Apreensões e rastreamento internacional
Durante o cumprimento dos mandados, a polícia apreendeu uma arma de fogo, celulares roubados e veículos de luxo. Os objetos eram utilizados para intimidar as vítimas e ostentar poder econômico. “O estrangeiro que insistir nessa prática criminosa no Piauí vai ser preso, e seus bens bloqueados”, afirmou o superintendente.
Francírio Queiroz informou ainda que a equipe trabalha para rastrear transferências internacionais e verificar se há ligação com o tráfico de drogas e outras organizações criminosas da Colômbia.
“Não descartamos conexões com o narcotráfico. É um esquema completo, há quem traga o dinheiro, quem repasse e quem cobre. A próxima etapa é seguir o rastro desses valores para entender até onde essa rede se estende”, disse.
Próximos passos
A Operação Macondo foi deflagrada nesta terça-feira (11) e cumpriu 15 mandados de prisão e 18 de busca e apreensão em Teresina, Parnaíba, Oeiras, Barras, Picos e Água Branca.
O prazo para a conclusão das investigações é de 30 dias. “Já estamos bem avançados, mas é uma investigação complexa e pode se estender. Tudo indica que haverá outras fases da operação”.
A Secretaria de Segurança Pública orienta vítimas de agiotagem a procurarem a Superintendência de Operações Integradas (SOI) ou a delegacia mais próxima.
“A única forma de se libertar dessa situação é levando informação à polícia”, reforçou o delegado Francírio Queiroz.
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