Anemia pode indicar doenças graves, mas é confundida com deficiência nutricional
Anemia é a redução da concentração de hemoglobina – metaloproteína que contém ferro e se encontra dentro dos glóbulos vermelhos – no sangue. Trata-se de uma condição que deve ser encarada como um sinal de alerta, e não um diagnóstico final.
“É fundamental uma investigação aprofundada para identificar a verdadeira causa da queda nos níveis de hemoglobina no sangue, para que seja tratada a condição por trás desse desequilíbrio”, enfatiza o onco-hematologista Abel Costa, que aplica a Inteligência Artificial à leitura de hemogramas, para suporte ao diagnóstico assertivo e rápido de doenças.
Se, após a detecção da anemia, há prescrição médica ou automedicação com ferro, sem um diagnóstico claro, há o risco de se atrasar a descoberta de uma doença grave. “O perigo não está no ferro em si, mas no fato de que ele pode mascarar temporariamente o problema”, explica Costa.
“Uma das queixas mais comuns que recebo no consultório é: ‘doutor, eu tenho essa anemia crônica há anos, já tomei vários tipos de ferro por via oral e ela nunca melhora de verdade’. Isso, quase sempre, revela uma falha no processo: ou a causa da perda de ferro não foi devidamente identificada ou não foi tratada de forma eficaz.”
O médico ressalta que é um mito a crença de que a anemia ferropriva (por deficiência de ferro) é primariamente um problema de dieta. O corpo humano é eficiente na reciclagem de ferro, e a deficiência em adultos raramente se deve apenas à baixa ingestão.
A variedade de doenças que a anemia pode revelar
“Até que se prove o contrário, a anemia ferropriva no adulto é um sinal de perda de sangue crônica”, defende Dr. Abel Costa, sócio da HemoDoctor. O surgimento de uma anemia por deficiência de ferro em um homem de qualquer idade ou em uma mulher após a menopausa representa alerta máximo para sangramento gastrointestinal oculto. A causa pode ser desde uma úlcera até um câncer de estômago ou intestino. Já mulheres em idade fértil podem apresentar anemia devido a um fluxo menstrual excessivo provocado por miomas ou disfunções hormonais, conhecido como Sangramento Uterino Anormal (SUA).
A anemia que não é curada por meio de comprimidos também pode indicar problemas na absorção de ferro, os quais podem ocorrer em casos de doença celíaca não diagnosticada, gastrite atrófica ou em pacientes submetidos as cirurgias de desvio gástrico, como a bariátrica (especialmente o bypass gástrico). Nessas situações, a reposição por via endovenosa se torna a única alternativa eficaz para corrigir a deficiência.
Doenças inflamatórias crônicas (artrite reumatoide, lúpus) e infecções crônicas também causam anemia. A inflamação sistêmica impede que o ferro estocado no corpo seja utilizado pela medula óssea. Doença Renal Crônica é outro fator de risco: com a insuficiência renal, cai a produção do hormônio eritropoetina, que estimula a medula óssea a produzir glóbulos vermelhos.
Por fim, a anemia também pode ser indício de doenças primárias da medula óssea. São elas: aplasia de medula (doença rara e grave em que a medula óssea simplesmente para de produzir todas as células sanguíneas, geralmente por um ataque do próprio sistema imunológico); e as doenças mais graves tratadas pela hematologia – as neoplasias hematológicas (síndromes mielodisplásicas, leucemias agudas, mieloma múltiplo ou infiltração de outros tumores na medula).
Como suspeitar
Como a hemoglobina é responsável por captar o oxigênio nos pulmões e entregá-lo a cada célula do nosso corpo, a anemia leva à falta de oxigenação nos tecidos. Com isso, a pessoa sente um cansaço profundo e persistente, que não se resolve com uma simples noite de sono. Outros sinais e sintomas são dor de cabeça, tontura, zumbido, dificuldade de concentração, taquicardia (palpitações), dispneia (frequência respiratória aumentada) e palidez na pele e mucosas.
A anemia ocasionada por doenças graves, como os cânceres, vem acompanhada de alguns dos seguintes sintomas: perda de peso inexplicada, febre (tipicamente vespertina, sem causa infecciosa aparente), sudorese noturna (a ponto de molhar a roupa de cama), dor óssea persistente, sangramentos na gengiva ou nariz, hematomas (manchas roxas) e infecções frequentes.
A prática do check-up é a principal ferramenta para a detecção precoce de anemia e doenças graves. De maneira geral, recomenda-se a realização anual de um hemograma completo. Por ser um exame de baixo custo, alta disponibilidade e riquíssimo em informações, o hemograma é o pilar de qualquer avaliação de saúde.
“Quando interpretado em sua totalidade (analisando o tamanho das células, a variação entre elas e as contagens de leucócitos e plaquetas), o hemograma nos dá o caminho inicial. A partir daí, a investigação é totalmente personalizada, baseada na história do paciente: sintomas, comorbidades, medicamentos que utiliza, histórico familiar”, esclarece Costa.
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