Bactéria modificada transforma plástico em analgésico; entenda o processo
Pesquisadores da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, fizeram um avanço significativo na luta contra a poluição plástica e a dependência de combustíveis fósseis na produção de medicamentos. Em um estudo publicado na revista Nature Chemistry, a equipe demonstrou que a bactéria Escherichia coli, após modificação genética, é capaz de converter resíduos plásticos do tipo PET (tereftalato de polietileno) em paracetamol, um dos analgésicos mais utilizados globalmente.
Atualmente, o paracetamol é fabricado principalmente a partir de combustíveis fósseis. A nova abordagem, que utiliza resíduos plásticos, representa uma alternativa mais sustentável para a produção de medicamentos. O processo começa com a degradação química de garrafas PET, um material comum em embalagens. As moléculas resultantes são então processadas pela E. coli modificada, que utiliza fosfato como catalisador para transformá-las em um composto orgânico contendo nitrogênio. Na etapa final, esse composto é convertido no ingrediente ativo do paracetamol.
Uma das principais vantagens desse método é a rapidez, permitindo que todo o processo ocorra em até 24 horas em um laboratório compacto, sem a necessidade de aquecimento ou resfriamento intenso. A eficiência do processo é notável, com uma taxa de conversão de 92%. Essa técnica utiliza o rearranjo de Lossen, uma reação química descoberta em 1872, agora adaptada para funcionar dentro de células vivas, tornando-a biocompatível.
Embora os testes tenham sido realizados apenas com plásticos PET, os pesquisadores acreditam que o mesmo método pode ser aplicado a outros tipos de plásticos e microrganismos. A tecnologia ainda precisa passar por mais estudos para validar sua viabilidade em escala industrial e comercial, mas os resultados iniciais são promissores. Stephen Wallace, biotecnólogo que liderou a pesquisa, afirmou: “O plástico PET não é apenas um resíduo ou um material destinado a se tornar mais plástico, ele pode ser transformado por microrganismos em novos produtos valiosos, incluindo aqueles com potencial para tratar doenças.”
O PET é um dos principais responsáveis pela poluição plástica global, com mais de 350 milhões de toneladas de resíduos gerados anualmente. Esta pesquisa oferece uma alternativa para o destino desse material, com potencial para reduzir o lixo e tornar a produção farmacêutica mais sustentável. Os autores do estudo acreditam que a combinação de processos naturais e química sintética pode ser a chave para desenvolver soluções sustentáveis em diversos setores da indústria.
Fonte: Metrópoles