Carga de mel exportada do Piauí avaliada em R$ 12 milhões é cancelada após tarifaço de Trump

O comércio e exportação de mel orgânico no Piauí começou a sentir os primeiros efeitos do tarifaço sobre o Brasil anunciado pelo presidente norte-americano Donald Trump. A medida, que começa a valer a partir de 1 de agosto, já tem trazido prejuízos para o setor. O Grupo Sama, considerado a maior exportadora do produto do Brasil, teve um carga avaliada em US$ 2.160.000,00 (dois milhões e cento e sessenta mil dólares), correspondente a cerca de R$ 12.000.000,00 (doze milhões de reais), cancelada.

Ao GP1, o CEO do Grupo Sama, Samuel Araújo, afirmou que o impacto financeiro é a primeira consequência negativa desse tarifaço, mas que pode se desdobrar em efeitos ainda mais negativos em relação à cadeia produtiva, especialmente em relação à agricultura familiar e o micro e pequeno produtor. Embora o Piauí lidere o cenário mundial da exportação de mel, pode perder esse posto caso esse tarifaço não seja negociado, o que tem preocupado os produtores. Nesse cenário, o empreendedor não ver uma alternativa que não gere prejuízos.

Foto: ReproduçãoCEO do Grupo Sama, Samuel Araújo

CEO do Grupo Sama, Samuel Araújo

“O Piauí é o principal exportador de mel orgânico do mundo. Nós produzimos o mel, as colmeias, as rainhas, os enxames, processa e exporta, e também compra dos micro e pequenos produtores rurais, os apoiando nessa cadeia de suprimento, de genética, de suporte, de fomento e compra do produto deles. E tudo isso está sendo prejudicado. O medo é que a gente perca mercado, porque se essa sobretaxa cai da forma como ela está desenhada, nós vamos ficar fora. É realmente impeditório [essa tarifa]. Então, teoricamente, para a gente continuar competitivo, nós teremos que diminuir nosso preço em 50%, e aí isso pode trazer algum tipo de prejuízo, a diminuição da renda, dos pequenos estímulos na produtividade, porque nós temos uma dependência do mercado norte-americano”, elencou o produtor.

Cancelamento de 585 toneladas de mel

Com clientes mundo a fora e a incerteza do cenário econômico e político mundial, o anúncio do tarifaço implicou no imediato adiamento de uma carga de 585 toneladas de mel. Ao todo, são 30 contêineres parados, sem destino. Cada contêiner custa em média US$ 72.000,00 (setenta e dois mil dólares), multiplicado pelo número informado pelo empresário, é totalizado mais de US$ 2 milhões em mel.

Além do prejuízo pelo cancelamento da carga, é somado também os custos para armazenar o produto, que pesa no bolso do empreendedor. “Mel você tem que armazenar em condições adequadas. A gente vai gastar com armazenamento, nós temos o custo do capital, e temos diretamente prejuízo de 50% do valor do nosso produto. E a produção não pode parar”, lamentou o empresário.

Produção de mel teve a pior safra

Esse cenário fica ainda mais preocupante diante dos desafios já enfrentados pelo setor, que é a queda na produtividade. Ainda conforme Samuel Araújo, os últimos três anos têm sido desafiadores para o produtor, que se encontra com as mãos cada vez mais atadas diante do desenrolar da relação entre o Brasil e os Estados Unidos.

Foto: Divulgação/AscomProdução de mel no Piauí

Produção de mel no Piauí

“Nós estamos tendo a pior safra de todos os tempos. Eu estou há 32 anos no mercado de mel, como exportador a mais de 20 anos. Eu nunca vi um cenário como esse. Tiveram produtores aqui no Nordeste que nem tiraram mel. E aí você vê, não tem o produto e ainda ter que baixar 50% o valor dele é um tapa na cara da gente. Realmente vai acontecer uma desaceleração. Se nós tivéssemos em um ano com boas condições, o impacto seria menor, porque isso compensaria por uma boa produtividade, mas o cenário que a gente tem é um ano ruim de produção de mel e ainda temos um tarifaço desse”, explicou o executivo.

Negociação diminuiria as dificuldades do mercado do mel

Diante do passar do tempo e o potencial de agravamento da situação no mercado do mel, o pedido do CEO do Grupo Sama é que o governo brasileiro considere os riscos que a falta de negociação pode representar para o setor produtivo, especialmente ao mercado do mel, e busque fortalecer a diplomacia com os Estados Unidos. Na avaliação de Samuel Araújo, e a única alternativa viável para impedir maiores prejuízos.

“O Brasil tem que agir rápido e deixar a diferença política de lado e tentar entender o que é que o governo americano quer com essas medidas. E para o mercado do mel, é uma dificuldade particular, porque o mercado do mel, nós temos o norte-americano como o maior consumidor mundial. O governo brasileiro tem que entender que existem cadeias produtivas, que existem negócios. E quem sustenta a política, quem gera riqueza, quem gera dinheiro para ter imposto é o comércio. Nós temos uma importância muito grande, porque a gente pega esse dinheiro que está lá fora, compete com outros país e bota aqui dentro, e isso chega na mesa dos pequenos produtores. Se isso não acontecer [negociação], os prejuízos são incalculáveis, são os mais desastrosos possíveis”, reforçou o empreendedor.

GP1

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