Ciro Nogueira e a vice-presidência: sonho adiado ou cálculo estratégico?
A possibilidade de Ciro Nogueira ocupar a vice-presidência da República já circula nos bastidores de Brasília há mais de uma década. De conversas discretas a menções abertas, o nome do senador piauiense já figurou em articulações presidenciais desde a gestão Jair Bolsonaro, quando a ideia chegou a ganhar contornos concretos. Em 2022, por exemplo, cogitou-se que um acordo entre PL e Progressistas resultaria na sua indicação como vice, mas a costura política não prosperou.
Em 2024, com a eleição de 2026 no horizonte e a direita reorganizando forças para enfrentar a tentativa de reeleição de Lula, Ciro voltou a articular em Brasília. A federação envolvendo PP, Republicanos e União Brasil, se consolidada, poderia se tornar um trunfo para seu projeto: unir a maior bancada na Câmara, força significativa no Senado e governadores estratégicos, carregando ainda a influência política de Jair Bolsonaro, de quem foi ministro-chefe da Casa Civil.
No entanto, a conjuntura de 2025 mostra um quadro diferente do imaginado. O deputado Júlio Arcoverde, aliado próximo, já afirmou publicamente que Ciro deve disputar a reeleição ao Senado, descartando, ao menos por enquanto, sua presença em uma chapa presidencial como vice. A prioridade, segundo ele, é fortalecer a base no Piauí, visitar municípios e consolidar apoio para manter o mandato.
A decisão pode ter mais pragmatismo do que frustração. Apesar de ser um cargo de prestígio, a vice-presidência não garante projeção política equivalente à de um senador com forte presença em seu estado e trânsito no Congresso. Além disso, uma chapa presidencial de oposição, mesmo competitiva, enfrentaria riscos significativos diante da máquina federal e do cenário fragmentado da direita, onde nomes como Michelle Bolsonaro e Tarcísio de Freitas ocupam o centro das atenções.
Nos bastidores, aliados avaliam que a desistência de Ciro Nogueira em disputar a vice-presidência não se deve apenas à falta de espaço na chapa de oposição, mas também a uma leitura cuidadosa do cenário. Ao evitar se expor a uma derrota nacional, que poderia reduzir seu peso político, ele preserva a força regional e mantém a capacidade de negociar posições estratégicas em Brasília. Além disso, ao permanecer no Senado, Ciro assegura protagonismo no debate legislativo e margem para se reposicionar conforme a correlação de forças mude até 2030, mantendo abertas as portas para futuros acordos que hoje ainda não estão no radar.
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