Empresa na lista do trabalho escravo recebeu milhões de verba pública em Pernambuco
A empresa pernambucana F.R.F Construções, incluída na “lista suja” do trabalho escravo em abril, recebeu mais de R$ 467 milhões em recursos públicos no estado nos últimos dez anos. O levantamento foi realizado pelo portal Diário de Pernambuco, com base em dados do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE).
O balanço também revela que a empresa mantém contratos vigentes com as prefeituras de Recife, Paulista e Ipojuca, que, juntos, somam R$ 134.561.916,43. Os acordos permanecem ativos mesmo após a ação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), realizada em 2024, quando 24 trabalhadores foram resgatados em condições análogas à escravidão. Os municípios alegam que os contratos são anteriores ao ocorrido.
Conforme o processo, os funcionários não utilizavam equipamentos de proteção individual e viviam em alojamentos superlotados, sem acesso a água potável e em condições precárias de higiene.
O empresário Fernando Corrêa de Araújo é o sócio-administrador da F.R.F Construções, cuja sede fica em Recife. Paulo Henrique Corrêa de Araújo e Rodrigo Pessoa Dias Fernandes também figuram como sócios, segundo registros da Receita Federal.
Atualmente, a empresa mantém sete contratos ativos com órgãos municipais. Os serviços são prestados à Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), à Autarquia de Urbanização do Recife (URB) e ao Gabinete de Gerenciamento do Programa de Requalificação e Resiliência Urbana em Áreas de Vulnerabilidade Socioambiental (Promorar).
Uma das obras executadas pela empresa a serviço da URB teve as contas julgadas irregulares em auditoria especial realizada pelo Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE). Após constatar o descarte irregular de resíduos, a Corte determinou a devolução de R$ 175.169,91 aos cofres públicos.
Ainda de acordo com o levantamento do Diário de Pernambuco, a F.R.F recebeu R$ 435.309.739,67 de prefeituras e mais R$ 32.615.561,52 do Governo do Estado nos últimos dez anos. Desse montante, o maior pagamento foi feito em 2023 pela Prefeitura de Ipojuca: R$ 10.371.415,07, referente a obras de drenagem.
Trabalhadores resgatados
Conforme os autos do processo, em que constam depoimentos dos trabalhadores resgatados dos alojamentos da construtora, obtidos pelo Diário, os recintos eram superlotados, não havia água mineral, e a empresa não fornecia roupa de cama, travesseiro, papel higiênico e materiais de higiene.
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