Justiça manda Google identificar autor de ameaças de morte contra o youtuber Felca
A Justiça de São Paulo determinou, neste domingo (17), a quebra de sigilo de um remetente de e-mails que enviou mensagens com ameaças de morte ao criador de conteúdo conhecido como Felca. A decisão judicial impôs ao Google, responsável pelo serviço Gmail, o prazo de 24 horas para repassar às autoridades dados que permitam rastrear e identificar o autor das intimidações.
De acordo com a defesa do youtuber, no sábado (16) Felca recebeu duas mensagens de teor violento. Nos textos, o responsável pelas ameaças dizia que ele “pagaria com a vida” após ter denunciado Hytalo Santos, preso na sexta-feira (15) sob acusações de exploração sexual de menores e de exposição abusiva de crianças na internet. As mensagens ainda continham frases diretas como “prepara para morrer” e “você vai pagar com a sua vida”.
Na determinação, o juiz exigiu que o Google apresente informações técnicas, incluindo registros de endereços de IP dos últimos seis meses, portas lógicas de origem, datas e horários de acesso, além de dados de cadastro vinculados à conta utilizada. O magistrado, contudo, rejeitou o pedido para que a investigação ocorresse em segredo de justiça.
Se a decisão não for cumprida dentro do prazo estabelecido, a empresa poderá ser multada em R$ 2 mil por dia de descumprimento.
Quem é Felca
O youtuber Felca, nome artístico de Felipe Bressanim Pereira, de 27 anos, tornou-se o centro das atenções na internet nas últimas 24 horas após publicar o vídeo intitulado “Adultização”, o qual expõe o uso abusivo da imagem de crianças por influenciadores digitais. O vídeo, com quase 50 minutos de duração, foi publicado nessa quinta-feira (07) em seu canal no YouTube e já acumula mais de 5 milhões de visualizações.
“É um assunto que causa repulsa, mas ele tem que ser falado”, afirmou Felca no vídeo, destacando que está ciente das possíveis consequências legais e sociais das denúncias.
As denúncias
No material, Felca compila denúncias envolvendo criadores de conteúdo que, segundo ele, estariam explorando a imagem de crianças para atrair audiência e, em alguns casos, atenção de pedófilos. O youtuber ainda faz uma demonstração prática de como o algoritmo das redes sociais pode direcionar esse tipo de conteúdo para perfis mal-intencionados.
Entre os casos citados está o do influenciador Hytalo Santos, de 28 anos, que vive na Paraíba e ficou conhecido nas redes por ostentar luxo e exibir sua convivência com crianças e adolescentes, a quem chama de “filhos”. Uma das principais figuras em seus conteúdos é Kamylinha Santos, de 17 anos, cuja exposição nas redes começou aos 12. A conta da jovem, com mais de 10 milhões de seguidores, foi recentemente suspensa e Hytalo está sob investigação do Ministério Público da Paraíba (MPPB).
Felca classificou os conteúdos de Hytalo como um “circo macabro”, em referência ao que descreve como encenações forçadas e exposição extrema de menores para ganho de popularidade. Outros casos citados incluem o canal Bel Para Meninas, investigado em 2020 pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por suposto comportamento abusivo da mãe da influenciadora mirim, e o caso da menor Caroliny Dreher, que, segundo Felca, teve conteúdos íntimos vendidos pela própria mãe em redes como o Telegram.
Durante a produção do vídeo, Felca passou a seguir contas públicas ligadas ao tema no X como parte de sua investigação. O ato foi mal interpretado por usuários da rede, que passaram a acusá-lo falsamente de pedofilia. Em resposta, o youtuber moveu mais de 200 processos por difamação, conseguiu a quebra de sigilo dos perfis envolvidos e propôs um acordo onde cada acusado doe R$ 250 para instituições que combatem o abuso infantil em troca da retirada da ação.
Repercussão política
Nesta sexta-feira (08) a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) agradeceu publicamente a Felca pela denúncia.“Agradeço ao Felca pela apuração que realizou sobre a exploração sexual infantil nas redes sociais e por sua postura ativa e cidadã de denunciar tudo à Polícia Federal”, escreveu a parlamentar. Ela afirmou ainda que está acionando a Justiça contra as plataformas e pedindo providências à direção da PF.
Início da fama de Felca
Natural de Londrina (PR), Felca começou sua trajetória online em 2012, como streamer de videogame. Ao longo dos anos, seu canal no YouTube passou a mesclar humor autodepreciativo e sátiras da cultura pop e digital. Entre seus vídeos mais famosos estão a resenha cômica sobre a base da influenciadora Virgínia Fonseca, com19,5 milhões de views e críticas às chamadas “lives de NPC” do TikTok.
Felca já falou abertamente sobre seus problemas com depressão e transtorno de ansiedade social, fatores que, segundo ele, moldaram sua identidade como criador de conteúdo.
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