Mensagens falsas tentam incentivar saques em massa do Banco do Brasil
Na última semana, muitos brasileiros se depararam, em redes sociais e grupos de WhatsApp, com frases alarmistas como “Tire seu dinheiro do Banco do Brasil” e “Brasileiros sacando seu dinheiro pelo risco Moraes/Dino”. Esses conteúdos, divulgados em vídeos, imagens e textos, agora também estão sob investigação da Polícia Federal (PF).
A denúncia partiu da Advocacia-Geral da União (AGU), acionada pela Procuradoria do Banco Central (BC), que pediu a abertura de inquérito alegando que as mensagens tinham como objetivo “gerar caos no sistema financeiro nacional”.
“Observa-se uma ação articulada de disparo massivo de publicações que buscam aterrorizar a sociedade”, afirmou a AGU.
Levantamento da empresa de análise Palver, que monitora mais de 100 mil grupos públicos no WhatsApp e 5 mil no Telegram, aponta que o Banco do Brasil se tornou alvo frequente de postagens na segunda quinzena de agosto, com predominância de conteúdos alarmistas sobre o futuro da instituição.
Segundo o cientista de dados Lucas Cividanes, da Palver, a intenção era clara: “Grande parte dessas mensagens buscava provocar pânico, já que temas ligados à poupança e ao sistema financeiro são sensíveis para a população, pela memória da inflação e do confisco das poupanças”.
O pano de fundo: Moraes e a Lei Magnitsky
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, foi incluído em julho nas sanções da Lei Magnitsky, dos Estados Unidos, sob acusação de abusar de sua posição para restringir a “liberdade de expressão”. A lei prevê congelamento de bens e bloqueio de transações financeiras de estrangeiros acusados de violar direitos humanos.
Na prática, isso poderia afetar o uso de cartões de crédito internacionais e operações bancárias ligadas a instituições que atuam no mercado americano. Segundo o jornal Valor Econômico, um cartão de crédito de Moraes no Banco do Brasil teria sido cancelado, sendo substituído por um Elo, de bandeira nacional — informação não confirmada oficialmente.
Essa notícia coincidiu com o aumento brusco das menções ao Banco do Brasil nos grupos de mensagens, de acordo com a Palver.
O estopim da campanha
Em 19 de agosto, o próprio Banco do Brasil publicou uma nota afirmando: “O Banco do Brasil atua em plena conformidade à legislação brasileira, às normas dos mais de 20 países onde está presente e aos padrões internacionais que regem o sistema financeiro.”
No entanto, bolsonaristas se apegaram apenas à frase “em plena conformidade à legislação brasileira” para alimentar especulações.
Um dia antes, o ministro Flávio Dino, também do STF, havia proibido a aplicação no Brasil de sentenças judiciais ou leis estrangeiras sem respaldo de tratados ou decisão da Justiça brasileira — o que, na prática, inviabiliza a aplicação da Magnitsky no país.
Com esses elementos, formou-se a “tempestade perfeita” para a onda de desinformação contra o Banco do Brasil, que agora está sob investigação.
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