Papa Francisco se reúne com vítimas de abuso sexual durante Jornada Mundial da Juventude

Pouco depois de afirmar que Igreja Católica precisa de uma “purificação”, nesta quarta-feira (2), o papa Francisco se reuniu com vítimas dos abusos sexuais praticados por membros da instituição em Portugal. O encontro aconteceu a portas fechadas na Nunciatura Apostólica, a embaixada do Vaticano, local onde o pontífice está hospedado em Lisboa por ocasião da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

A fala sobre purificação se deu enquanto o pontífice comandava uma celebração dirigida a membros do clero no mosteiro dos Jerônimos. Então, ele comentava a “a desilusão e a aversão” que muitas pessoas nutrem pela Igreja Católica em razão de “escândalos que desfiguraram o seu rosto”, uma referência às denúncias que vieram à tona nos últimos tempos sobre escândalos encobertos pelo Vaticano.

Em fevereiro, relatório de uma comissão independente revelou que pelo menos 4.815 menores foram abusados sexualmente por membros da instituição em solo português desde 1950. Cerca de 96% dos abusadores são do sexo masculino, e 77%, padres.

A cifra indicada pelo grupo, calculada com base em investigações e em relatos espontâneos das vítimas, foi classificada como conservadora, representando “apenas a ponta do iceberg” da dimensão real dos abusos.

Segundo informações da Santa Sé, Francisco recebeu “13 vítimas de abusos por parte dos membros do clero, acompanhadas por alguns representantes de instituições da Igreja portuguesa, responsáveis pela proteção dos menores”. A informação oficial é de que o encontro, que durou cerca de uma hora, decorreu em uma “atmosfera de intensa escuta”.

Além de ouvir relatos de cada um dos presentes, o pontífice também recebeu cartas de outras vítimas que não estiveram na reunião. Ele ainda recebeu o psiquiatra Pedro Strecht, presidente da comissão independente que apurou os abusos em Portugal.

“Este encontro do Santo Padre representa a confirmação do caminho de reconciliação que a Igreja em Portugal tem vindo a percorrer neste âmbito, colocando as vítimas em primeiro lugar, colaborando na sua reparação e recuperação, de forma que lhes seja possível olhar o futuro com esperança e liberdade renovadas”, afirmou, em nota, a Comissão Episcopal Portuguesa (CEP).

A comissão independente de Portugal foi criada a pedido da CEP em meio à onda de escândalos de abusos sexuais contra menores na Igreja Católica em diversos países. Na França, uma investigação independente revelou que mais de 200 mil crianças e adolescentes foram abusados em um período de 70 anos.

O papa se reuniu com vítimas de abuso sexual pela primeira vez em 2014, um ano depois de assumir o pontificado. Na ocasião, ele pediu perdão a um grupo de seis pessoas, oriundas do Reino Unido, da Irlanda e da Alemanha, em uma missa privada no Vaticano.

O primeiro dia de Francisco em Lisboa ainda foi repleto de eventos com políticos. Depois de sobrevoar a capital lusa num avião escoltado por dois caças F-16, Francisco foi recebido com honras militares pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa no Palácio de Belém, sede do Executivo federal.

O pontífice também participou de encontro com políticos, membros do corpo diplomático e representantes da sociedade civil. Ao fim da tarde, ele se reuniu com o premiê, António Costa.

Antes de se recolher para almoçar, Francisco cumprimentou fiéis que o aguardavam. Na manhã de quinta-feira (3), ele visitará a Universidade Católica, onde se reunirá com estudantes e membros de uma organização católica. No fim da tarde, comandará a primeira cerimônia oficial na JMJ, num dos palcos principais do evento.

Na sexta (4), o papa tem mais uma maratona de compromissos e encontros, incluindo um período em que participará da confissão de jovens inscritos na jornada. No sábado (5), ele fará uma breve viagem ao santuário de Fátima. Após rezar o terço com jovens doentes, o papa comandará o início da vigília.

O argentino despede-se de Portugal no domingo (6), após celebrar uma missa e participar da cerimônia de encerramento, na qual será anunciada a próxima cidade a sediar a JMJ.

Fonte: Folhapress/Giuliana Miranda

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