Delator assassinado: entenda como começou relação entre empresário e PCC

Em depoimento prestado ao Ministério Público, o empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach – executado na última sexta-feira (8) em Guarulhos (SP) – contou como conheceu integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), entre eles, Anselmo Santa Fausta, o “Cara Preta”, que teria sido assassinado a mando do delator, em 2021.

O SBT News teve acesso ao documento da delação premiada de Gritzbach, de quase mil páginas.

Gritzbach estava jurado de morte desde 2021, e a principal linha investigativa sobre o assassinado dele aponta para o PCC. A tese tem fundamento, afinal “ele desviou dinheiro, delatou alguém e foi mandante de assassinato de dois integrantes importantes [da facção]… ou pelo menos é acusado de tudo isso”, segundo Ivana David, desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo que estuda a facção há anos.

Em entrevista ao SBT News, Ivana afirmou que Gritzbach descumpriu três estatutos da facção criminosa, cuja punição, segundo regulamento interno, é a morte.

Como conheceu o PCC

No acordo feito com a Justiça, Antônio Vinicius Gritzbach deu detalhes de como foi introduzido aos Primeiro Comando da Capital: ele conheceu os integrantes do PCC quando era funcionário da construtora Porte Engenharia e Urbanismo, através do corretor Robinson Granger – o “Molly”.

Dois apartamentos da Porte, negociados por Molly, apresentaram problemas — que foram resolvidos por Gritzbach. Os imóveis, na verdade, pertenciam a Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, homem forte do PCC. O delator só conheceu Cara Preta mais tarde, quando o integrante da facção adquiriu outro imóvel da construtora. Contudo, a escritura foi lavrada em nome de Ademir Pereira de Andrade — apontado na delação como um agiota, que atuava como “laranja” e administrava valores de diversos membros da organização criminosa.

Outro integrante do PCC introduzido por Molly ao delator foi Silvio Luiz Ferreira, o “Cebola”, apresentado como Rodrigo Martins — um dos nomes falsos utilizados pelo criminoso. Cebola também comprou um apartamento na construtora, porém, a escritura foi lavrada em nome do advogado Ahmed Hassan, conhecido como Mude, e o pagamento realizado por Rafael Maeda (o “Japa” ou “Naka”) e Ademir Pereira de Andrade.

O delator conta, ainda, que o advogado Ahmed Hassan — que mais tarde teria colocado um prêmio de R$ 3 milhões pela cabeça de Gritzbach — já era cliente da Porte.

Já o “Japa” foi apresentado ao empresário como um piloto de fórmula HB20 e vendedor de carros. Gritzbach que Maeda também agenciava atletas de futebol e fazia pagamento irregulares para Anselmo Santa Fausta (Cara Preta). O delator também disse que Japa participou de seu sequestro, em 2022.

Rafael Maeda (Japa) é apontado pelo empresário como o responsável pela desova do corpo de Cláudio Marcos de Almeida, o “Django”, líder do PCC, morto pelo “tribunal do crime” da facção. O corpo foi jogado sob o viaduto da Vila Matilde, na zona Leste de São Paulo, em janeiro de 2022. Vale ressaltar que Django tinha relações comerciais com Gritzbach e também foi apresentado a ele por Molly.

Em maio de 2023, Japa foi encontrado morto dentro de seu carro, com dois tiros na cabeça. O empresário relata que Maeda morreu no prédio de Ademir Pereira de Andrade (o agiota), logo após tê-lo encontrado.

Outro nome mencionado por Gritzbach é o de Danilo Lima de Oliveira, conhecido como “Tripa”, empresário de diversos jogadores de futebol, entre eles Emerson Royal, Éder Militão, Eduardo Queiroz e outros.

“[Tripa] participou do sequestro de Vinicius, pegando seu celular e mandando ligar para família para se despedir. Calçou luvas cirúrgicas dizendo que ia esquartejá-lo. De longe, o mais ameaçador durante o sequestro”, afirmou à delação premiada.

Outros nomes que teriam envolvimento com o PCC também são mencionados por Gritzbach durante o depoimento ao Ministério Público, mas não há detalhes.

Delação premiada

No acordo de colaboração premiada, o Ministério Público diz que Gritzbach se apresentou de forma voluntária e “afirmou possuir informações referentes à lavagem de bens e valores de integrantes da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC)”.

Entre as responsabilidades do empresário com o MP, ficou acordado que Gritzbach se comprometeria a dar informações sobre atos de corrupção policial, além de revelar a estrutura hierárquica, a divisão de tarefas e o modus operandi da facção criminosa. Em troca de sua colaboração, Gritzbach pediu perdão pelo crime de associação criminosa, redução em 1/3 da pena na condenação de lavagem de dinheiro e cumprimento da sentença em regime inicial aberto, entre outras requisições.

Para assinar a delação, que foi homologada pela Justiça em 19 de junho de 2024, o empresário precisou pagar R$ 15 milhões para aos cofres públicos de São Paulo.

 

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