Pochmann fala em novo IBGE ao tomar posse e diz que instituto passou por vendaval tóxico
Em discurso de posse, o novo presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o economista Marcio Pochmann fez críticas ao tratamento dado à instituição durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), defendeu um “novo IBGE” e um Estado indutor de políticas públicas.
“Sem concursos públicos e sob rebaixamento salarial e precarização generalizada das condições de trabalho, o IBGE foi submetido a uma de suas piores situações vivenciadas desde o ano de 1936, quando foi constituído”, disse em referência ao governo anterior.
“A partir de 2023, […] com a garantia de recursos adicionais ao término do Censo Demográfico, o reajuste inicial das remunerações e a aprovação de concursos, a principal instituição de pesquisa do Estado brasileiro passou a respirar aliviada. A hora é de reconstrução e ampliação de horizontes, em sintonia com todos os avanços que a era digital proporciona”, disse.
Pochmann afirmou ainda que a recuperação do IBGE é urgente e inadiável, “após o vendaval tóxico e destrutivo dos anos recentes”.
O economista fez menções honrosas ao presidente Lula (PT) e à ministra a ministra Simone Tebet (Planejamento), que estavam presentes na cerimônia de posse, nesta sexta-feira (18). O evento também contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Para Pochmann, o IBGE tem uma dupla função estratégica de “verdadeiro cartão de apresentação do Brasil ao mundo” e de “bússola capaz de monitorar trajetórias perseguidas em mudanças de rumo”.
“Como bem observou o presidente Lula no G7 em Hiroshima, desemprego, pobreza, fome, degradação ambiental, pandemias e todas as formas de desigualdade e discriminação são problemas que demandam resposta socialmente responsáveis. Essa tarefa só é possível com um estado indutor de políticas públicas voltado para a garantia de direitos fundamentais e do bem-estar coletivo”, disse.
A decisão de escolher o economista filiado ao PT ocorreu em meio a resistências de uma ala do Ministério do Planejamento, que abriga o órgão de pesquisas. Sua nomeação foi publicada no Diário Oficial da União em 8 de agosto.
Pochmann foi anunciado, no fim de julho, após Tebet dizer a interlocutores ouvidos pela Folha que não iria impor obstáculos à nomeação. Na visão dela, não há risco de ingerência política na instituição diante do diagnóstico de que o órgão é técnico e “caminha sozinho”.
O economista atuou como presidente do Ipea de 2007 a 2012, quando a Presidência da República foi ocupada por Lula e Dilma Rousseff (PT).
No Ipea, sua passagem teve o registro de polêmicas, incluindo o afastamento de técnicos e a realização de um concurso visto como ideológico.
Doutor em economia, é professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e da UFABC (Universidade Federal do ABC). Filiado ao PT, já presidiu o Instituto Lula e trabalhou na elaboração do programa de governo na campanha de Fernando Haddad à Presidência, em 2018.
Em seu discurso, Tebet disse que o governo lançou pacote de medidas que cria “condições macroeconômicas mais saudáveis”, como a queda da inflação, geração de mais empregos e redução da fome.
Tebet agradeceu ainda os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), respectivamente, pelo avanço do novo arcabouço e da Reforma Tributária no Congresso.
O primeiro texto, considerado prioritário para o governo, teve a votação final adiada mais de uma vez na Câmara, após dificuldade do Planalto em fechar acordo em torno da entrada do centrão no governo com a reforma ministerial, até hoje sem definição de Lula.
Ela agradeceu ainda ao presidente pelo que chamou de valorização do IBGE e na confiança dos dados para definição de políticas públicas.
“O IBGE é um espelho reflexivo da nação. (…) E infelizmente demonstrou e revelou para um Brasil sem Photoshop e realista, mas muito distante dos nosso sonhos”, disse.
Fonte: Folhapress (Marianna Holanda e Thiago Resende)